A atenção primária à saúde (APS) no Brasil passa por renovadas diretrizes de financiamento e monitoramento que visam melhorar a qualidade, a integralidade e o acesso dos serviços prestados à população. Em 2025, o Ministério da Saúde oficializou um novo conjunto de indicadores para o componente de qualidade das equipes de saúde bucal (eSB) que atuam na APS.
Para equipes de saúde bucal, técnicos, coordenadores municipais e gestores, compreender estes seis indicadores, como definições, cálculos, lançamentos no sistema e‑SUS APS e implicações para o financiamento municipal, é essencial para garantir não só o cumprimento das metas, mas também a melhoria real da saúde bucal da comunidade.
Neste artigo, você encontrará um reusmo que explica cada indicador, mostra como operacionalizá-lo no e-SUS APS. Se preferir tem a versão em vídeo logo abaixo também.
Panorama geral dos indicadores de saúde bucal na APS
O novo modelo de cofinanciamento federal da APS incorpora o Componente de Qualidade, que passa a considerar o desempenho das equipes como critério para repasses mensais, além dos componentes fixo e de vínculo/território.
Para as equipes de saúde bucal (eSB), foram definidos 6 indicadores:
- B1 – Primeira consulta odontológica programada
- B2 – Tratamento odontológico concluído
- B3 – Taxa de exodontias
- B4 – Escovação supervisionada em faixa etária escolar
- B5 – Procedimentos odontológicos preventivos
- B6 – Tratamento restaurador atraumático (ART)
Esses indicadores têm como objetivo monitorar não apenas o acesso, mas também a qualidade, a continuidade do cuidado e a ação preventiva das equipes de saúde bucal.
Indicador 1 – Primeira consulta odontológica programada (B1)
Definição: Avalia o acesso da população à primeira consulta odontológica programada realizada por equipes de saúde bucal na APS.
Cálculo: Número de pessoas atendidas em “Primeira consulta odontológica programada” dividido pelo número de pessoas vinculadas ou população-referência da equipe (eSF ou eAP).
Lançamento no e-SUS APS: No atendimento odontológico, na fase de finalização, selecione “Tipo de consulta” → “Primeira consulta odontológica programada”. Assim que marcada, esse atendimento passa a compor o indicativo de B1.
Boas práticas:
- Monitorar mensalmente para identificar se equipes estão conseguindo organizar esse primeiro contato programado.
- Garantir que a lista de usuários vinculados à equipe esteja atualizada.
- Definir fluxo para agendar e registrar a primeira consulta programada.
Indicador 2 – Tratamento odontológico concluído (B2)
Definição: Proporção entre tratamentos odontológicos concluídos e as primeiras consultas odontológicas programadas realizadas pelas equipes de saúde bucal.
Cálculo: Número de pessoas com tratamento odontológico concluído dividido pelo número de pessoas que realizaram uma primeira consulta odontológica programada.
Lançamento no e-SUS APS: No atendimento, após marcar a primeira consulta programada, registrar os procedimentos subsequentes até marcar “Tratamento concluído” na fase de finalização.
Boas práticas:
- Utilizar os dados para avaliar se os tratamentos iniciados estão sendo finalizados, um indicativo de organização da equipe.
- Definir mecanismos de acompanhamento das consultas de retorno e dos tratamentos.
- Registrar adequadamente a conclusão para que conste no sistema.
Indicador 3 – Taxa de exodontias (B3)
Definição: Avalia a relação entre o número de dentes extraídos (exodontias de dente permanente e exodontias múltiplas com alveoloplastia por sextantes) e o total de procedimentos individuais (preventivos, curativos e exodontias) realizados pela equipe de saúde bucal.
Cálculo: (Número de exodontias realizadas) ÷ (Número total de procedimentos individuais)
Lançamento no e-SUS APS: No odontograma ou na evolução odontológica, registrar o procedimento “Exodontia de dente permanente” ou “Exodontia múltipla com alveoloplastia”; os outros procedimentos preventivos/curativos devem igualmente estar registrados para que o denominador seja completo.
Boas práticas:
- Incentivar a equipe à ação preventiva para reduzir o número de extrações.
- Monitorar os dados para identificar se a taxa está elevada, o que pode indicar desafios na prevenção e promoção da saúde bucal.
- Utilizar esse indicador para planejamento de estratégias de prevenção, educação em saúde e articulação com APS.
Indicador 4 – Escovação supervisionada em faixa etária escolar (B4)
Definição: Proporção de crianças na faixa etária de 6 a 12 anos que foram atendidas pela ação coletiva de escovação dental supervisionada realizada pela equipe de saúde bucal vinculada a uma equipe de saúde da família ou atenção primária.
Cálculo: Número de crianças com escovação supervisionada ÷ Número de crianças na faixa-etária de 6 a 12 anos vinculadas à equipe (eSF ou eAP).
Lançamento no e-SUS APS: No módulo de Atividade Coletiva → “Avaliação / Procedimento” → escolha “Faixa etária escolar (6 a 12 anos)”, marque nos procedimentos “Escovação dental supervisionada”. Aproveite e realize uma ação conjunta com o programa Saúde na Escola (PSE).
Boas práticas:
- Integrar esse indicador no planejamento da equipe e no calendário escolar-comunitário.
- Articular com escolas, técnicos em saúde bucal, auxiliares e agentes para promover a escovação supervisionada como rotina.
- Registar cada criança individualmente, quando possível, para fidelizar os dados.
Indicador 5 – Procedimentos odontológicos preventivos (B5)
Definição: Proporção de procedimentos odontológicos preventivos realizados pela equipe de saúde bucal em relação ao total de procedimentos odontológicos realizados.
Procedimentos contemplados no numerador: aplicação de cariostático por dente; aplicação de selante; aplicação tópica de flúor individual por sessão; evidência de placa bacteriana; selamento provisório de cavidade dentária; orientação de higiene bucal.
Lançamento no e-SUS APS:
- No odontograma ou na evolução odontológica, registrar “Aplicação de cariostático”, “Aplicação de selante”, “Selamento provisório de cavidade dentária”, entre outros.
- Para os demais (fluor individual, evidência de placa), registre no módulo “Outros procedimentos/avaliação”.
Boas práticas: - Priorizar e planejar procedimentos preventivos sistematicamente como rotina da equipe.
- Registrar corretamente no sistema para que os dados reflitam o real esforço preventivo da equipe.
- Monitorar a proporção mensalmente e usar os resultados para melhorar o planejamento de ações.
Indicador 6 – Tratamento restaurador atraumático (ART) (B6)
Definição: Proporção de procedimentos de Tratamento Restaurador Atraumático (ART) realizados pela equipe de saúde bucal em relação ao total de procedimentos restauradores na atenção primária. Essa técnica prioriza a mínima intervenção e preservação da estrutura dentária.
Cálculo: Número de procedimentos ART ÷ Número total de procedimentos restauradores realizados (incluindo restaurações convencionais).
Lançamento no e-SUS APS: No odontograma ou na evolução odontológica, registrar o procedimento “TR ou ART” no dente correspondente; apenas cirurgiões-dentistas da equipe têm competência para esse registro.
Boas práticas:
- Capacitar a equipe para técnicas de ART.
- Registrar corretamente o procedimento para que ele componha o indicador.
- Utilizar o resultado para destacar a qualidade da atenção, valorizando técnicas que preservam dentição e priorizam ação de promoção.
Boas práticas de gestão e implicações para financiamento da APS
As seis metas da saúde bucal estão diretamente ligadas ao novo modelo de cofinanciamento da APS, que passa a levar em conta não só a quantidade, mas a qualidade e a organização do cuidado prestado.
Para gestores municipais e coordenadores de equipes de saúde bucal isso implica:
- Melhor articulação entre equipe odontológica, equipes de saúde da família/APS e educação escolar (no caso de B4).
- Uso dos dados para planejamento de intervenção territorial e promoção da saúde bucal.
- Monitoramento regular para melhoria contínua — isso permite aumentar o valor do repasse federal, pois desempenho melhorado pode significar maior financiamento adicional.
- Atenção aos riscos: falhas no registro, ausência de procedimentos preventivos, falta de articulação com escolas ou comunidade podem comprometer os resultados e impactar o componente de qualidade.
Os seis novos indicadores da saúde bucal na APS — B1 até B6 — representam uma grande oportunidade para as equipes odontológicas elevarem seus padrões de cuidado, organizarem melhor os fluxos de trabalho e contribuírem para uma atenção à saúde bucal mais qualificada e estruturada.
É essencial que as equipes entendam o cálculo, façam os registros corretamente no e-SUS APS e utilizem os resultados para planejar e operar melhorias. Se o seu time já está pronto para iniciar esse processo, clique no vídeo abaixo para ver a demonstração prática no sistema.
Prepare-se, capacite sua equipe, implemente os processos e use estes indicadores como aliados para elevar a qualidade da saúde bucal em seu território.
Referência: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/publicacoes/fichas-tecnicas
- Nova versão do e-SUS – PEC 5.4.22
- 6 novos indicadores da saúde bucal na APS: guia completo para o lançamento no eSUS
- Prontuário Eletrônico do SUAS estabelece novas diretrizes para modernizar e proteger dados da assistência social
- Portal PagTesouro é instituído como sistema padrão para emissão de GRU
- Ministério da Saúde agiliza acesso ao Programa de Proteção e Promoção da Saúde e da Dignidade Menstrual com emissão de autorizações via e-SUS APS e e-Gestor APS